26 de janeiro de 1944
Jesus diz:
"A lição, para você e os outros, está nas coisas que viu. É uma lição de renúncia, humildade e harmonia. Um exemplo para todas as famílias cristãs, e, nomeadamente aos que vivem neste momento peculiar e doloroso.
Viste uma casa pobre, uma casa pobre - e isso é doloroso - num país estrangeiro.
Muitos, apenas por ser um fiel "aceitável", que me recebe nas espécies Eucarísticas, rezam e recebem a comunhão para as suas necessidades, e não pelas necessidades das almas e da glória de Deus - porque é muito raro que aquele que reza não seja egoísta - muitos, só por esse fato, esperam desfrutar de uma vida material fácil ao amparo da menor dor, duma vida próspera e feliz.
José e Maria tiveram a Mim, Deus verdadeiro, como Filho seu, e, no entanto, não tiveram nem sequer a mínima condição de ser pobre em sua terra nata, no país onde eles eram conhecidos, onde, pelo menos, tinham uma casa "deles" e pelo menos a preocupação de alojamento não acrescentava sofrimento a muitos outros, num país que, por ser conhecido, teria sido mais fácil encontrar trabalho e prever as necessidades da vida. São precisamente dois expatriados por ter-me a Mim. Um clima diferente, um país diferente - e tão triste comparando com os campos da doce Galiléia! - Língua diferente, costumes diferentes, ali, entre um povo que não conhecia e como é normal entre as pessoas, que desconfiavam de expatriados e estrangeiros.
Faltava-lhes os queridos e confortáveis móveis de "sua casinha", e essas outras muitas coisas, humildes, mas necessárias, que ali havia e então não pareciam tão necessárias, enquanto que aqui, rodeados deste nada, haveriam de parecer inclusive bonitas(como o supéfluo, que faz deliciosas as casas dos ricos).
Eles sentiam saudades da terra e de casa, e as preocupações das pobres coisas deixadas lá, da hortazinha que talvez ninguém cuidasse, da vinha e da figueira e de outras plantas úteis. Preocupavam-se com a necessidade de alcançar o alimento diário, a roupa, o fogo de cada dia, e a necessidade de atender-me, a Mim, um Menino, ao qual ele não podiam dar o alimento que podiam dar a eles. E tinham seu coração cheio de pesares, pelas saudades, a incógnita do amanhã, a desconfiança das pessoas, relutantes como são, sobretudo num primeiro momento, ao aceitar ofertas de emprego de dois estranhos.
E apesar de tudo, viu como nesta casa respirava serenidade, sorrisos, harmonia, e como, de comum acordo, e inclusive se tratou de fazer uma simples hortazinha - para que se assemelhasse mais à que haviam deixado e torná-la mais confortável. E como neles havia um único pensamento: de tornar aquela terra menos hostil, a Mim, Santo, tornando esta terra menos miserável a Mim, que venho de Deus. É um amor de crentes e de pais, que se manifesta em mil cuidados, que vão desde a cabrita - comprada com um monte de trabalho extra - até mesmo os brinquedos da madeira que sobrava ou até a fruta colhida apenas para Mim, negando-se a si mesmo um bocado.
Oh, amado meu pai da terra, quanto Deus te amou, Deus, o Pai do Alto, Deus Filho, que se fez Salvador na terra!
Nesta casa não há nervosismo, faces longas e escuras, como não há fechamento da fisionomia por nada, e muito menos a Deus, que não os preencheu com o bem-estar material. José não acusou Maria de ser a causa de seu desconforto, nem Maria acusou José de não saber dar-lhe mais bem-estar. Se amam santamente, e isto é tudo, e, portanto, sua preocupação não é o próprio bem-estar, mas o cônjuge. O verdadeiro amor não conhece egoísmo. O verdadeiro amor é sempre casto, ainda não sendo perfeito na castidade como dos esposos virgens. A caridade unida à castidade sobrepõe uma grande riqueza de outras virtudes, e, portanto, faz dos que se amam castamente , dois cônjuges perfeitos.
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