"Recordo um dia no qual falava da oração e do que me disse Jesus naquela noite na qual disse pela primeira vez a oração ao Pai".

178. - As lágrimas de saudade são as mais doces e as mais amargas.

Felipe era simples, puro e cheio de entusiasmo: "Todos devem saber quem era o Rabi! Devem conhecê-lo todos para amá-lo..." Conhecê-lo para amá-lo!

Depois de séculos há ainda muitos que não se interessam por meu Filho, e não lhe conhecem por sua vontade. Enquanto outros que queriam conhecê-lo não sabem onde buscá-lo, e então Ele se adianta, vai ao seu encontro e fala em seus corações.

André o irmão de Pedro, não se  parecia muito com ele, era mais tranquilo, mais silencioso, mas quando ele falava de Jesus também falava no Espírito e dizia palavras belíssimas: "Ele veio no meio de nós. Escolheu-nos num desígnio de amor ao mundo para que fôssemos os primeiros a dar testemunho de sua divindade".

A Igreja avançava e fosse um sonho ou uma visão, vi muitos templos cheios de luz. Quantas igrejas na terra! Casas de Deus, casas para o culto e para a oração que em todas as partes se pode e se deve rezar.

Quantas histórias e quantos santos! Não foi em vão, certamente, o sacrifício de meu Filho, nem tampouco minha dor e tampouco toda dor! A dor é oração, e a oração nunca é vã.

Recordo um dia no qual falava da oração e do que me disse Jesus naquela noite na qual disse pela primeira vez a oração ao Pai. Havia lua, havia silêncio e havia aroma de terra e de herva:

"Rezar é estar con Deus, falar com Deus e escutá-lo no próprio eu. Mãe, quanto mais se Lhe ama, mais se Lhe escuta! Eu, Deus de Deus, falo ao Pai meu Deus e Lhe escuto! E os homens falarão ao Pai, a Mim, que sou Ele e Nosso Espírito lhes iluminará, tanto como para fazer-lhes compreender a eles que nunca estão sós!...".

"Senhora", disse João, "O Rabi me disse que é necessário rezar pela própria alma e pela dos outros, de todo o resto se preocupa a Providência por nós. Nós devemos rezar por amor e pedir somente para amar melhor!".

"João recordas como era  solene Sua voz quando Ele rezava?". "Ensinava-nos a nós e ao mundo a oração: sentimento puro expressado com palavras, vivido com as obras, exaltado com o sacrifício, enobrecido com as lágrimas..."

Isto dizia então Felipe, que estava presente e estava sentado junto a nós. Estávamos em casa; a casa de Éfeso não era como aquela de Nazaré no sentido de que não tinha história.

Em Nazaré cada coisa tinha sido vista ou tocada por Jesus.
Quando, alguma vez voltava ali o coração quase paru, as recordações, a saudade... Quem  viveu a saudade conhece toda sua doçura mesclada de melancolia. As lágrimas de saudade são as mais doces e mais amargas.

"Mãe, estou contigo, não me vês, me escutas! Mãe, o amor vence a morte e continua a vida! Estou vivo e te falo, Mãe!"

Quantas vezes o escutei! Quantas vezes escutas ao teu filho! E a saudade permanece já que se é criatura na matéria e queria ver seu rostro. A dor é dor, mas a fé o sublima e dá esperança e paz.

Voltou Paulo uma noite e ficou conosco até a entrada da noite. Falou-nos de suas viajens...

"Não vi o que há ao meu redor, me interessam só as almas. Quando devo falar invoco a Cristo e Ele fala en mim com palavras belíssimas. Não me canso ainda que fale horas e horas. Escuto perguntas as quais Jesus sempre responde. Minha vida é intensa, cheia. Tem um objetivo. Senhora, quando ia até Damasco, antes de encontrar o Cristo, era outro..."

A Igreja crescia... Todas as noites os apóstolos se uniam em oração mesmo que estivessem afastados uns dos outros, e também Eu pronunciava com todo meu sentimento estas palavras:

"Jesus que nos ensinou o amor, ajuda-nos a amar e a ensinar o amor. Envia-nos onde tu sabes, liberta de todo vínculo, teus instrumentos, tua voz, tua Palavra. Leva-nos onde tu sabes, somos folhas de teu vento, gotas de teu rio, eco de tua Palavra. Ajuda-nos, defende-nos do mal! Ajuda-nos a difundir a Verdade, ajuda-nos a crescer no  Espírito".

E as folhas ao vento de Jesus, as gotas de seu rio iam para levar a verdade e a vida no nome de meu Filho. Homens simples, homens verdadeiros, não melhores que outros, "Por que nos terá escolhido?".

Um porquê sem resposta na terra. E marchavam para longe, não temiam o sacrifício e estavam serenos. Folhas em seu vento, gotas de seu rio... A oração tinha sido escrita por João. João tinha sentimentos e inspiração de poeta. Era inteligente e amável, sereno.

O Espírito Consolador que iluminou a João, lhe voltou maravilhoso em seu Evangelho. Todos os batizados deveriam conhecer o Evangelho, não somente escutá-lo, mas consultá-lo cada dia.

O Evangelho é uma mina de beleza. João escreveu livros e livros mas não teriam bastado para descrever tudo.

O Evangelho para vós é aquele que serve para vossa vida e para vossa salvação. A Igreja crescia! E seguiu avançando nos séculos. É de meu Filho, seguirá adiante! Está no coração do mais humilde e pequeno, está no coração do mais fiel, está na alma do mais santo...
Aquela noite, na qual veio Paulo, ficamos a falar até muito tarde, lhes ofereci os pães com mel...

14 de Janeiro de 1985