Ao amanhecer do dia, saiu o Senhor do Cenáculo, conduzindo os onze Apóstolos pelas ruas de Jerusalém, por todo o caminho da Paixão. Seguiram-nos Maria e um grupo de discípulos. Onde se dera uma cena da Paixão, demorava-se alguns momentos, explicando-lhes a significação do lugar ou um trecho dos profetas referente a isso. Onde, porém, os judeus tinham obstruído o lugar, para impedir a veneração dos fieis, mandou Jesus tirar esses obstáculos.
Assim saíram da cidade e vieram a um jardim ou lugar de oração, onde se sentaram à sombra das árvores e Jesus ensinou e consolou-os. Como no entanto começava a amanhecer, tornaram-se-lhes os corações um pouco mais alegres, na esperança de que Jesus ainda ficasse com eles.
Aproximaram-se então muitas turbas de povo. Jesus continuou o caminho para o monte Calvário e dali para o Monte das Oliveiras, onde se sentou novamente num jardim, falando ainda muito tempo com os discípulos, como para terminar a sua obra.
Já estava reunida numerosa multidão em redor de Jesus e por toda a redondeza; em Jerusalém correu o boato do grande concurso de povo no Monte das Oliveiras, ao qual se juntaram novos grupos da cidade.
Então se dirigiu o divino Salvador do Horto de Getsêmani e subiu o Monte das Oliveiras.
“A multidão caminhava como em procissão, subindo o monte pelos diversos caminhos, de todos os lados e muitos grupos passavam pelas moitas, pelas sebes e cercas.
O Senhor, porém, tornava-se cada vez mais resplandecente e ligeiro. Os discípulos seguiam-no, mas não mais podiam alcançá-Lo. Tendo o Senhor chegado ao cume do monte, brilhava como a luz branca do sol. Do céu, porém, desceu sobre Ele um circulo luminoso, que brilhava com todas as cores do arco-íris. Todos os que O seguiram, ficaram parados, em vasto círculo, como que ofuscados. O Senhor brilhava ainda mais do que o esplendor que o cercava. Pousando a mão esquerda sobre o peito, abençoou com a direita elevada todo o mundo, virando-se para todos os lados. A multidão ficou imóvel, vi que todos foram abençoados. Jesus não abençoava como os rabinos, com a mão aberta para a frente, mas como os bispos cristãos. Senti com grande felicidade esse benção sobre todo o mundo.
Então se lhe uniu o próprio esplendor à luz do alto e notei que se tornava invisível, a partir da cabeça, dissolvendo-se-lhe a figura na luz celeste e desaparecia como que subindo. Era como se um sol entrasse no outro ou como uma chama entrando numa luz ou uma centelha numa chama. Era como se se fitasse o sol radioso do meio-dia e ainda mais branco e claro; o pleno dia parecia escuro, em comparação com aquela luz. Quando já não se Lhe via mais a cabeça, ainda se podia distinguir-Lhe os pés resplandecentes, até que desapareceu inteiramente, no esplendor do céu. Inúmeras almas vieram de todos os lados, entrando nessa luz e desapareceram no céu com o Senhor. Não posso dizer que O vi tornar-se cada vez mais pequeno, como algo que voa no ar; mas vi-O desaparecer numa nuvem de luz.
Ao aparecer a nuvem luminosa, caiu, por assim dizer, um orvalho de luz sobre todos e não podendo mais suportar essa luz, ficaram todos cheios de espanto e admiração. Os Apóstolos e discípulos achavam-se mais perto de Jesus; estavam em parte deslumbrados e olhavam para baixo; muitos se prostraram por terra. A santíssima Virgem estava logo atrás dos Apóstolos, olhando tranqüilamente para a frente.
Após alguns momentos, quando o esplendor diminuiu um pouco, toda a assembléia, no maior silêncio e nas mais intensas emoções da alma, olhou para a luz do alto, que ainda ficou por algum tempo. Nessa luz vi descer duas figuras, no começo pequenas, crescendo cada vez mais e aparecer, com vestes longas e brancas e um bastão na mão, como profetas, falando à multidão; as vozes soavam alto e forte, como a de trombetas e parecia-me que as deviam ouvir em Jerusalém. Não se movimentam, mas estavam inteiramente imóveis, ao dizer as poucas palavras: “Homens da Galiléia, que estais aí olhando para o céu? Esse Jesus que acaba de vos ser arrebatado, para subir ao céu, voltará como o vistes subir ao céu”. Tendo dito essas palavras, desaparecerem.
O esplendor, porém, ficou ainda por algum tempo, até que afinal se desfez, como do dia se passa à noite. Os discípulos estavam fora de si, sabiam agora o que lhes tinha sucedido: O Senhor tinha ido embora para o Pai Celestial. Muitos caíram por terra de dor e atordoamento. Enquanto desaparecia o esplendor, recobraram ânimo e ergueram-se, cercados pelos outros. Muitos formaram grupos, as mulheres aproximaram-se também e assim se demoraram ainda, olhando para o céu, pensando e falando sobre o sucedido; depois voltaram os discípulos a Jerusalém, seguidos pelas mulheres. Alguns dos mais simples choravam como crianças, outros se conservavam recolhidos e pensativos. A Santíssima Virgem, Pedro e João estavam muito tranqüilos e consolados. Vi, porém, também muitos outros que não estavam comovidos, mas descrentes e duvidosos e que apartaram dos outros e se afastaram; pouco a pouco se dispersou toda a multidão.
No lugar onde Jesus subiu ao céu, havia uma grande laje, sobre a qual o Divino Mestre estava ensinado ainda, antes de dar a bênção e desaparecer nas nuvens luminosa. As pegadas do Senhor ficaram impressas na pedra e numa outra se imprimiu uma das mãos da Santíssima Virgem.
Meio dia já tinha passado, quando toda a multidão acabou de dispersar-se. Os discípulos e a Santíssima Virgem dirigiram-se ao Cenáculo. Sentindo a princípio a separação de Jesus, estavam inquietos e julgavam-se abandonados. Quando, porém, se acharam reunidos no Cenáculo, encheram-se todos de consolação, principalmente pela presença calma da Santíssima Virgem no meio deles e, confiando inteiramente na palavra de Jesus, de que Maria lhes seria o centro, a Mãe e intercessora, recuperaram a paz de coração.
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