Jesus, nosso único amor

Jesus, nosso  único amor
Olhai sempre por nós

Sejam bem vindos e mergulhem no Amor de Deus por nós!

Tudo por um mundo cheio do Amor Incondicional de Deus por nós. Mudemos o mundo levando as imagens invisíveis do Céu para a humanidade que hoje só crê nas imagens visíveis.

ZELAR PELA MÃE TERRA

ZELAR PELA MÃE TERRA
Minha doce Mãe, te ofereço essas flores!

domingo, 31 de janeiro de 2010

PARA MEDITAR TODOS OS DIAS

Meu Cristo Partido
(Padre Ramón Cué)

O meu Cristo partido, o encontrei em Sevilha. Dentro da arte subjuga-me o tema de Cristo na cruz. Levam minhas preferências os cristos barrocos espanhóis. A última vez, fui comprar em companhia de um bom amigo meu.

O Cristo, que escolha! Se o pode encontrar entre porcas e cravos, tarraxas oxidadas, roupa velha, sapatos, livros, bonecas rasgadas ou litografias românticas. A coisa, é saber buscá-lo. Porque Cristo anda e está entre todas as coisas deste revolto e inverossímil bazar que é a Vida.

Porém naquela manhã nos aventuramos pela casa de um artista, é mais fácil encontrar aí o Cristo,porém muito mais caro, é o lugar de antiquários.
É o Cristo com imposto de luxo, o Cristo que tem encarecido aos turistas, porque desde que se intensificou o turismo, também Cristo está mais caro. Visitamos unicamente dois das três tendas e andamos pela terceira ou quarta.

Ei! Quer algo, padre?
Dar uma volta pela tenda, nada mais, olhar, ver.

De repente, na minha frente, deitado sobre uma mesa, vi um Cristo sem cruz, ia lançar-me sobre ele, porém freei meus impulsos. Olhei o Cristo de rabo de olho, me conquistou desde o primeiro instante. Claro que não era exatamente o que buscava, era um Cristo partido. Porém esta mesma circunstância, me ligou à ele, não sei porquê. Fingi primeiro interesse pelos objetos que me rodeavam até que minhas mãos se apoderaram do Cristo. Dominei meus dedos para não acariciá-lo! Não me tinham enganado os olhos! Não! Devia ter sido um Cristo muito belo, era um impressionante despojo mutilado. É claro, não tinha cruz, lhe faltava metade da perna, um braço inteiro, e ainda conservava a cabeça, tinha perdido o rosto.

Chegou perto o antiquário, tomou o Cristo partido em suas mãos e...
Oh, é uma magnífica peça, se vê que tem gosto o padre, olhe que esplêndido talhe, que bem feito!
Porém está tão partido, tão mutilado!
Não tem importância padre, aqui ao lado há um magnífico restaurador amigo meu e vai deixá-lo para você, novo!

Tornou a ponderar, a louvar, o acariciava entre suas mãos; porém não acariciava o Cristo, acariciava a mercadoria que se ia converter em dinheiro.

Insisti; duvidou, fez uma pausa, olhou pela última vez o Cristo fingindo que lhe custava separar-se dele e me o deu num arranque de generosidade fictícia, dizendo-me resignado e dolorido:
Toma padre, leve-o, por ser para você e acredite que não ganho mais que 3000 pesetas, nada mais. Você leva uma jóia!

O vendedor exaltava as qualidades para manter o preço. Eu, sacerdote, lhe lembrava méritos para rebaixá-lo. Estremeci-me de repente. Disputávamos o preço de Cristo, como se fosse uma simples mercadoria. E me lembrei de Judas! Não era aquela também uma compra e venda de Cristo?

Porém, quantas vezes vendemos e compramos a Cristo, não de madeira, de carne, e nele a nossos próximos! Nossa vida é muitas vezes uma compra e venda de cristos.

Bem, cedemos os dois, baixou para 800 pesetas. Antes de despedir-me, lhe perguntei se sabia a procedência do cristo e a razão daquelas terríveis mutilações. Com informação vaga e incompleta me disse que acreditava que procedia da serra de Arasena, e que as mutilações se deviam à uma profanação em tempo de guerra.

Apertei o meu Cristo com carinho, e saí com ele para a rua. No final, já de noite, fechei a porta de minha casa e me encontrei só, cara a cara com meu Cristo. Que ensanguentado despojo mutilado, vendo-o assim me decidi a perguntar-lhe:
Cristo, quem foi que se atreveu contigo? Não te cortaram as mãos quando estilhaçou as tuas arrancando-te da cruz? Vive todavia? Aonde? Que faria hoje se te visse em minhas mãos? Se arrependeu?
CALA-TE! Falou-me uma voz aguda.
CALA-TE, perguntas demasiado! Crês que tenho um coração tão pequeno e mesquinho como o teu? CALA-TE! Não me perguntes nem penses mais em quem me mutilou, deixa-o. Que sabes, tu? Respeita-o, eu já o perdoei. Eu me esqueço instantaneamente e para sempre de seus pecados. Quando um homem se arrepende, Eu perdoo de uma vez, não por mesquinhas trocas como vocês. Cala-te! Por que diante de meus braços partidos, não te ocorre recordar os seres que ofendem, ferem, exploram e mutilam os seus irmãos, os homens? Qual é o maior pecado? Mutilar uma imagem de madeira ou mutilar uma imagem minha viva, de carne, na qual Eu habito pela graça do batismo. Oh! Hipócritas! Vós rasgais as vestes diante da lembrança de quem mutilou uma imagem de madeira, enquanto lhe estreitai as mãos ou lhe rendei honras ao que mutila física ou moralmente aos cristos vivos que são seu irmãos.

Eu contestei:
Não posso ver-te assim, destroçado, ainda que o restaurador me cobre o que quiser! Tudo o Senhor merece! Dói-me ver-te assim. Amanhã mesmo te levarei ao restaurador. Verdade que aprovas o meu plano? Verdade que o Senhor gosta?

NÃO, NÃO GOSTO! Contestou o cristo, seca e duramente.
ÉS IGUAL A TODOS E FALAS DEMAIS!

Houve uma pausa de silêncio. Uma ordem, rápida como um raio, veio a cortar o silêncio angustiante.
-NÃO ME RESTAURES, TE PROÍBO! OUVES?
-Sim Senhor, te prometo, não te restaurarei.
Obrigado. Contestou-me o Cristo. Seu tom voltou a dar-me confiança.
Por que não queres que te restaure? Não te compreendo. Não compreendes Senhor, que vai ser para mim uma contínua dor cada vez que te olhe partido e mutilado? Não compreendes que me dói?
Isso é o que quero, que ao ver-me partido te lembres sempre de tantos irmãos teus que convivem contigo; partidos, rasgados, indigentes, mutilados. Sem braços, porque não tem possibilidade de trabalho. Sem pés, porque lhe fecharam os caminhos. Sem cara, porque lhes tiraram a honra. Todos os esquecem e lhe voltam as costas. Não me restaures, a ver se vendo-me assim, te lembres deles e te doa, vê-los assim, partido e mutilado te sirvo de chave para a dor dos demais! Muitos cristãos se voltam em devoção, em beijos, em luzes, em flores sobre um belo Cristo, e se esquecem de seus irmãos os homens, cristos feios, rotos e sofredores.
Há muitos cristãos que tranquilizam sua consciência beijando um Cristo belo, obra de arte, enquanto ofendem ao pequeno Cristo de carne, que é seu irmão. Esses beijos me repugnam, me dão asco! Tolero-os forçado em meus pés de imagem talhada em madeira, porém me ferem o coração. Tendes demasiados cristos belos! Demasiadas obras de arte de minha imagem crucificada. E estais em perigo de permanecer na obra de arte. Um Cristo belo, pode ser um perigoso refúgio aonde esconder-se em fuga da dor alheia, tranquilizando ao mesmo tempo a consciência, num falso cristianismo.
Por isso, deveriam ter mais cristos partidos, um na entrada do templo, que gritará sempre com seus membros partidos e seu rosto sem forma, a dor e a tragédia de minha segunda paixão, em meus irmãos homens1 Por isso te suplico, não me restaures, deixa-me partido junto de ti, ainda que amargue tua vida.
Sim Senhor, te prometo. Contestei.

E um beijo sobre seu único pé estilhaçado, foi confirmada minha promessa.
Desde hoje viverei com um Cristo partido.

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